Fotografia explicada, ensinada, aprendida...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Entrevista do Bob Wolfenson em 2006 para o CCSP

Fonte: Clube de Criação de São Paulo
http://ccsp.com.br/entrevista/?id=20453

05/05/2006


Clubeonline: Como está dividida sua vida profissional, hoje?

Bob Wolfenson: Eu fotografo profissionalmente, não apenas para publicidade. Tenho uma carreira de fotógrafo artístico e faço também muitos editoriais de moda. Cuido de uma revista alternativa, chamada S/N (Sem Número), que trata de imagem, cultura e não tem periodicidade fixa. É como o Incrível Exército de Brancaleone: a gente junta uns gatos pingados pelo caminho faz um número, bate em retirada, e volta de novo quando há assunto, dinheiro e gente para ajudar a fazer. A gente vai e volta, vai e volta. Mas queremos arrumar meios para torná-la regular. Ultimamente, venho dirigindo filmes publicitários, também.

Clubeonline: Está gostando da experiência?

BW: Eu gosto de fazer comerciais, tudo tem dado muito certo e meu trabalho tem sido relativamente bem aceito. É uma área na qual o prestígio que tenho como fotógrafo não me garante sucesso. Mas meu trabalho de fotógrafo me ajuda, pois é quase a mesma coisa: numa área a imagem está parada e na outra há movimento, diálogos e música. Quando fotografo, eu penso no conceito, na escolha de casting, na locação, da mesma maneira que um diretor de cinema faz. A grande diferença é o momento da produção, a escala, o número de profissionais envolvidos. É outra turma e outra grandeza. Na fotografia tudo é mais silencioso, é um mundo mais fechado. Nas filmagens há mais festa e tem que se usar megafone, às vezes, ou rádios para comandar a equipe numerosa. Mas a atenção que se tem que ter no cinema, por ter muito dinheiro envolvido, e a tensão, me fascinam. É um desafio, embora eu não me sinta pressionado.

Clubeonline: Quando a direção de cena começou a fazer parte da sua vida profissional?

BW: Minha primeira oportunidade na direção de imagens surgiu quando eu fiz um editorial fotográfico para a Forum e eles quiseram também que eu fizesse um filme. Paralelamente a isso, eles entraram em contato com a Sentimental Filme, pois tinham um bom relacionamento com a produtora, e o cliente nos aproximou. Isso faz uns três anos. Dirigi o filme em parceria com o Pedro Becker e eu era um “prego” nessa história de direção. Não conhecia nada mesmo. Todo mundo me ajudou, a equipe foi bacana e eu gostei bastante do resultado. Depois disso, houve um hiato grande, voltei a ser fotógrafo, e um ano depois decidi levar essa coisa de direção de cena mais a sério.

Clubeonline: E a fotografia artística? Você já expôs seus trabalhos?

BW: Em 2004, fiz uma mostra grande no Museu de Arte Brasileira, da Faap, em São Paulo. Essa exposição se chamava “Anti-fachada - A encadernação do Oráculo” e trazia fotos de São Paulo. Era uma montagem, na qual a parte externa era a cidade, de uma forma muito particular, e dentro era uma espécie de diário pessoal. Eu transformei o público em privado e o privado em público.

Clubeonline: Tem alguma novidade nessa área?

BW: Tenho uma exposição programada para março de 2007, na Galeria André Milan. Mas ainda não tenho palpite do que farei. A pior coisa do mundo é você ser obrigado a ter uma idéia. É bom quando a idéia acontece. Eu prefiro ter um trabalho pronto para depois decidir preparar a exposição. Nesse trabalho específico terei que atuar de maneira diferente. Mas, por outro lado, os limites, muitas vezes, ajudam a criar soluções criativas. Quando se tem muito tempo para desenvolver algo, quando se está muito livre, as coisas podem não sair.

Clubeonline: No que exatamente a experiência de fotógrafo o ajuda no comando de um set de filmagem?

BW: O meu olhar de fotógrafo, o meu jeito de ver as coisas, o meu gosto, a forma de dirigir e a minha relação com as pessoas. Sem falar na minha idade, experiência e no tempo que eu fotografo. Isso tudo ajuda no set de filmagens de um comercial. E no artesanato, ou seja, na feitura de um filme, conto com o apoio da Sentimental, que me dá todo o suporte. Estou aprendendo cada vez mais.

Clubeonline: E tecnicamente? Você já se dobrou à fotografia digital ou tem um perfil mais purista?

BW: Não acho que a discussão entre o que é melhor, o analógico ou o digital, seja importante. Porque a fotografia é um veículo de idéias, assim como o cinema. Então, não interessa a forma como isso vai ser feito. Não sou daqueles caras que ficam cheirando negativo, curtindo as placas, não vejo a fotografia de uma forma orgânica. Vejo como algo conceitual, um veículo de idéias, mesmo. Eu não uso tanto o digital porque simplesmente sou "prego" nesse assunto (risos).

Clubeonline: Como assim?

BW: Passei 30 anos fazendo imagens em película, de repente, de dois anos pra cá, tive que começar a fotografar em digital. Os processos são diferentes, o ritual é outro. Antes, você fazia a imagem, mandava revelar e ficava esperando com aquele friozinho na barriga. Com o digital, você pára, olha, vê se ficou bom, apaga, e faz de novo.

Clubeonline: Quais são as maiores diferenças entre os dois formatos?

BW: No digital, na captação da imagem, os intervalos entre o escuro e o claro são mais visíveis. Não tem tanta perda, apesar da textura ser diferente, o que é lógico. Nas passagens do preto para o branco, o digital se aproxima mais do olho humano. O filme não dá conta do olho humano e você tem que enganar para chegar ao que seria o olhar humano. Muitas vezes, num set, as pessoas da equipe olham aquilo e dizem: “Nossa, que luz linda”. Eu digo: “Não leve isso em consideração. Isso não quer dizer nada, pois o filme não registra isso que as pessoas estão vendo. A película é burra e faz uma leitura plana e chapada do que a gente está vendo". Você tem que compensar com alguma luz na frente, ou fazendo um trabalho de pós-produção para arrumar isso. Mas se eu colocar uma imagem digital ao lado de uma em película, ninguém vai saber apontar as diferenças.

Clubeonline: Como começou a fotografar nu?

BW: Eu admirava os fotógrafos da Playboy, mas nunca persegui isso como um objetivo profissional. Achava os caras sortudos, pois viam as mulheres nuas (risos). Mas foi por um acaso que eu comecei a fazer nu. Fui convidado.

Clubeonline: E como anda essa atividade na sua vida?

BW: Em princípio, não faço mais ensaios de nu. Um pouco eu enjoei e também acho que já fiz o que era possível. Já fiz ensaios com a Maitê Proença, Vera Fischer, Ângela Vieira, Milla Christie, Alessandra Negrini e mais um monte. Era legal fazer, pois as coisas eram definidas diretamente com a modelo. Imagina um trabalho no qual a chefe fica pelada na sua frente (risos). Dava para arriscar bastante em termos conceituais e tecnicamente. Tudo podia e a cada passo você definia as coisas em conjunto, na hora, e dava para improvisar bastante. Quando você pode improvisar é bom, mas quando você tem que improvisar, por obrigação, é ruim. Participava até o final do processo, incluindo a edição e paginação das imagens. O último ensaio que eu fiz para a Playboy foi para a Regiane Alves.

Clubeonline: Por que parou de fazer ensaios para a Playboy?

BW: Quando mudou a direção da Playboy, nós entramos em um atrito. Tanto eu como o JR Duran paramos de fazer. A impressão que tenho é que a nova diretoria achava que eu e o Duran mandávamos na revista, que éramos os caciques e tínhamos todo o poder. De fato, nas minhas matérias quem manda sou eu. Eles começaram a impor diversas coisas nos ensaios. Se fosse publicidade, isso é perfeitamente normal e não teria problema. Essa foi a questão. A diretoria anterior acabou indo para a Sexy, que mudou o perfil e eu fiz lá as imagens da Ciça Guimarães.

Clubeonline: Quem são os diretores de filmes publicitários que mais chamam sua atenção?

BW: Gosto muito do trabalho do Pedro Becker (hoje na Margarida Flores e Filmes), do Maurício Guimarães e do Luciano Zuffo (os dois últimos da Sentimental Filme). O trabalho deles que me chama muito a atenção. Eu vejo muita publicidade e analiso o que está bom e ruim.

Clubeonline: Onde você busca inspiração para trabalhar?



BW: Tudo o que eu vejo, o que eu faço, os livros que leio, os filmes que assisto, as viagens, tudo isso acaba de alguma maneira influenciando no meu trabalho na publicidade. A minha vida é minha influência e procuro não trabalhar com muitas referências de outros profissionais, apesar de tê-las. Quando você coloca a câmera na frente do seu olho, de alguma maneira você está dando sua opinião a respeito do que está vendo. Essa opinião é carregada de toda a influência de sua vida.

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